O Conteúdo 2 é concernente à construção
da linguística textual e frisa que,
antes de qualquer coisa, deve-se considerar a estrutura que forma um texto uma
unidade de análise da linguística.
Vimos na disciplina Introdução à
Linguística que a construção do objeto científico, para a linguística, na sua
definição mais superficial, é o estudo da própria língua, uma vez que para a
linguística textual, o foco é a construção e formação do texto, sobretudo nos
dias atuais.
É importante considerar o processo
histórico da Linguística Textual que passou por fases que a diferenciaram
completamente, para, no fim, considerar o texto como objeto de estudo e as
concepções para o desenvolvimento das fases de construção. Sendo, pois, o
centro de abordagem deste conteúdo.
A linguística textual iniciou seu
desenvolvimento como ciência da estrutura e funcionamento do texto na década de
60, na Europa, mais precisamente na Alemanha, e, desde então, causou diversas
rupturas em alguns conceitos tradicionais do estruturalismo linguístico,
retratando diferentes linhas teóricas que visam superar inconsistências. Sendo
que, cada uma das três fases que apresentaremos, se afastam, cada vez mais, da
influência teórico-metodológica estruturalista de Saussure.
Uma entre as graves razões que fizeram com que a Linguística Textual
fosse instaurada é a total desconsideração no sujeito (falante), durante a
Linguística Estrutural, o que fez com que os estudos do texto fossem além dos
limites da frase, ou da palavra,
sendo que o objeto de investigação deixa de ser a palavra ou a frase soltas,
mas sim, o texto, de forma contextualizada, assim, reintegrando o sujeito e a
situação comunicativa.
Segundo Bentes (2001), a história da
constituição da linguística textual não se tem precisão em relação à sequência
cronológica, mas, podem ser definidos três momentos teóricos que se
diferenciam, aqui, chamados de fases. Sendo:
FASE 1 - TRANSFRÁSTICA:
Esta fase da Linguística Textual teve
como princípio estudar a relação entre uma frase e outra através de mecanismos
interfrásticos. Identificar como
o sentido era garantido a partir de uma frase e outra, que faziam parte do
sistema gramatical da língua. Um entre os pontos mais discutidos em relaçào a
esta fase era como um pronome que servia para substituir um sintagma nominal
poderia construir o sentido de uma frase. O estudo estava focado na utilização
dos conectivos entre as frases. Então, a partir disto, um problema foi observado:
alguns textos, que não tinham conectivos para fazer a relação entre uma frase e
outra, também faziam sentido. As frases abaixo exemplificam a relação entre as
orações que não possuem, explicitamente conectivos, mas, não deixam de fazer
sentido:
"Não fui à festa de seu aniversário, passei-lhe
um telegrama."
"Não fui à festa de seu aniversário, estive
doente."
"Não fui à festa de seu aniversário, não posso
dizer quem estava lá."
Notamos que na
primeira frase há uma relação adversativa, que não havendo a necessidade do
conector “mas” para complementar a frase, manteve o sentido que o enunciador
pretendeu. Desta mesma forma, na segunda frase trouxe uma relação explicativa sem
a necessidade do conector “porque”. E a
terceira, conclusiva, sem a necessidade do conector “então”.
Isso ocorre
porque o leitor ouvinte constrói o sentido global das frases e estabelece,
mentalmente, essas relações graças ao conhecimento intuitivo do falante. Assim,
textos que nao têm fenomeno de co-referenciação também podem ter sentido, nao sendo
uma simples soma de frases.
FASE 2 - AS GRAMÁTICAS TEXTUAIS:
Segundo Bentes, pela primeira vez, o
texto passa a ser objeto de estudo. Então há um conjunto finito de regras para
reconstrução de texto partilhadas por todos os falantes da língua, utilizando
de oposição entre texto e discurso, para que os falantes identificassem se um
conjunto de frases é um texto ou não. Portanto, a identificação de tais
aspectos era permitida de acordo com o conhecimento intuitivo dos falantes da
língua.
O conhecimento intuitivo do falante
sobre a lingua engloba três capacidades textuais básicas, conforme aponta
Charolles (1989 apud BENTES, op.cit., p.250):
capacidade formativa: produzir e compreender o texto;
capacidade transformativa: reformular, parafrasear e resumir o texto;
capacidade qualificativa: reconhecer e tipificar o texto: se é
narrativo, descritivo, argumentativo) e ter capacidade em produzir o texto em
determinado tipo.
Então se os falantes sabem e têm capacidade, a gramatica textual serve para estabelecer os
criterios e o que é ou nao um texto.
Diante disto, o trabalho exaustivo e muito
formal do texto, fez com que os linguistas elaborassem uma terceira fase da
Linguística Textual, chegando pois a teoria do texto, fase que, embora em
formatos diferentes, é utilizada nos dias atuais.
FASE 3 - ELABORAÇÃO DE UMA TEORIA DE
TEXTO:
O texto era visto como produto: pronto,
acabado e formal. Então, a partir da terceira fase da Linguística Textual,
passou a ser analisado em seu contexto, analisando todas as condições de
produção (quem escreveu e para quem escreveu). Visto que a língua não era autônoma
a ponto de não necessitar de condições de produção para que o texto fosse
analisado de maneira mais eficaz .
Alguns estudiosos também apontam tais
momentos como as três principais fases de desenvolvimento da linguística
textual Indursky (2006) e Koch (2009) – entre outros autores deste campo
científico.
Muito embora, não seja possível
precisar com exatidão início e fim de cada fase, há noção de período em que
tiveram maior ponto de evidência. Respectivamente, década de 60, 70 e 80 até os
dias atuais.
A proposta de criação de discussão com
base nos estudos trabalhados a serem aplicados em salas de aula de ensino fundamental
e médio, devem, a priori, considerar o conhecimento que cada aluno detém,
conforme mencionado no Conteúdo 1, deste blog.
A partir disso, é possível ampliar os
assuntos, sobretudo no que tange a construção do estudo da língua, mais
especificamente, do texto.
Uma das técnicas apresentadas por
Regina Célia Haydt a serem aplicadas em salas de aula de ensinos fundamental e
médio, que, segundo a autora, após elementares apectos, comprovou-se a
eficácia, é a utilização de ferramentas que corroboram o processo de
ensino-aprendizagem.
A construção de blog, por exemplo, que
é um instrumento em que o aluno encontrará espaço para divulgar as informações
levantadas acerca de determinado assunto. Neste caso, sobre o processo e fases
da Linguística Textual, de forma com que o aluno esteja apto a construir um
texto, de forma geral, além de ter consciência do enfoque das teorias de texto.
BENTES, A. C. Lingüística Textual. IN.
MUSSALIM, F. & BENTES, A. Introdução
à Lingüística – Domínios e Fronteiras. 3ed.
São Paulo, Cortez. Vol.1., 2003, p.245-287.
HAIDT,
Regina Célia Cazaux. Curso de didática
geral. São Paulo: Editora Abril, 2ª ed. 1995.
KOCH, I. V. O
texto e a construção dos sentidos. São Paulo, Contexto, 1997a.
Revisado por: Felip Alves