segunda-feira, 27 de março de 2017

O nascimento de uma Linguística do Texto: da frase ao texto - as três fases de construção da Linguística Textual

      O Conteúdo 2 é concernente à construção da linguística textual e frisa que, antes de qualquer coisa, deve-se considerar a estrutura que forma um texto uma unidade de análise da linguística. 
       Vimos na disciplina Introdução à Linguística que a construção do objeto científico, para a linguística, na sua definição mais superficial, é o estudo da própria língua, uma vez que para a linguística textual, o foco é a construção e formação do texto, sobretudo nos dias atuais.
       É importante considerar o processo histórico da Linguística Textual que passou por fases que a diferenciaram completamente, para, no fim, considerar o texto como objeto de estudo e as concepções para o desenvolvimento das fases de construção. Sendo, pois, o centro de abordagem deste conteúdo.
       A linguística textual iniciou seu desenvolvimento como ciência da estrutura e funcionamento do texto na década de 60, na Europa, mais precisamente na Alemanha, e, desde então, causou diversas rupturas em alguns conceitos tradicionais do estruturalismo linguístico, retratando diferentes linhas teóricas que visam superar inconsistências. Sendo que, cada uma das três fases que apresentaremos, se afastam, cada vez mais, da influência teórico-metodológica estruturalista de Saussure. 
      Uma entre as graves razões que fizeram com que a Linguística Textual fosse instaurada é a total desconsideração no sujeito (falante), durante a Linguística Estrutural, o que fez com que os estudos do texto fossem além dos limites da frase, ou da palavra, sendo que o objeto de investigação deixa de ser a palavra ou a frase soltas, mas sim, o texto, de forma contextualizada, assim, reintegrando o sujeito e a situação comunicativa.
       Segundo Bentes (2001), a história da constituição da linguística textual não se tem precisão em relação à sequência cronológica, mas, podem ser definidos três momentos teóricos que se diferenciam, aqui, chamados de fases. Sendo:

FASE 1 - TRANSFRÁSTICA:

Esta fase da Linguística Textual teve como princípio estudar a relação entre uma frase e outra através de mecanismos interfrásticos. Identificar como o sentido era garantido a partir de uma frase e outra, que faziam parte do sistema gramatical da língua. Um entre os pontos mais discutidos em relaçào a esta fase era como um pronome que servia para substituir um sintagma nominal poderia construir o sentido de uma frase. O estudo estava focado na utilização dos conectivos entre as frases. Então, a partir disto, um problema foi observado: alguns textos, que não tinham conectivos para fazer a relação entre uma frase e outra, também faziam sentido. As frases abaixo exemplificam a relação entre as orações que não possuem, explicitamente conectivos, mas, não deixam de fazer sentido:

"Não fui à festa de seu aniversário, passei-lhe um telegrama."
"Não fui à festa de seu aniversário, estive doente."
"Não fui à festa de seu aniversário, não posso dizer quem estava lá."

Notamos que na primeira frase há uma relação adversativa, que não havendo a necessidade do conector “mas” para complementar a frase, manteve o sentido que o enunciador pretendeu. Desta mesma forma, na segunda frase trouxe uma relação explicativa sem a necessidade do conector  “porque”. E a terceira, conclusiva, sem a necessidade do conector  “então”.
Isso ocorre porque o leitor ouvinte constrói o sentido global das frases e estabelece, mentalmente, essas relações graças ao conhecimento intuitivo do falante. Assim, textos que nao têm fenomeno de co-referenciação também podem ter sentido, nao sendo uma simples soma de frases.

FASE 2 - AS GRAMÁTICAS TEXTUAIS:

Segundo Bentes, pela primeira vez, o texto passa a ser objeto de estudo. Então há um conjunto finito de regras para reconstrução de texto partilhadas por todos os falantes da língua, utilizando de oposição entre texto e discurso, para que os falantes identificassem se um conjunto de frases é um texto ou não. Portanto, a identificação de tais aspectos era permitida de acordo com o conhecimento intuitivo dos falantes da língua.
O conhecimento intuitivo do falante sobre a lingua engloba três capacidades textuais básicas, conforme aponta Charolles (1989 apud BENTES, op.cit., p.250):

  capacidade formativa: produzir e compreender o texto;
  capacidade transformativa: reformular, parafrasear e resumir o texto;
  capacidade qualificativa: reconhecer e tipificar o texto: se é narrativo, descritivo, argumentativo) e ter capacidade em produzir o texto em determinado tipo.

Então se os falantes sabem e têm capacidade, a gramatica textual serve para estabelecer os criterios e o que é ou nao um texto.
Diante disto, o trabalho exaustivo e muito formal do texto, fez com que os linguistas elaborassem uma terceira fase da Linguística Textual, chegando pois a teoria do texto, fase que, embora em formatos diferentes, é utilizada nos dias atuais.

FASE 3 - ELABORAÇÃO DE UMA TEORIA DE TEXTO:

O texto era visto como produto: pronto, acabado e formal. Então, a partir da terceira fase da Linguística Textual, passou a ser analisado em seu contexto, analisando todas as condições de produção (quem escreveu e para quem escreveu). Visto que a língua não era autônoma a ponto de não necessitar de condições de produção para que o texto fosse analisado de maneira mais eficaz .
 Alguns estudiosos também apontam tais momentos como as três principais fases de desenvolvimento da linguística textual Indursky (2006) e Koch (2009) – entre outros autores deste campo científico.
 Muito embora, não seja possível precisar com exatidão início e fim de cada fase, há noção de período em que tiveram maior ponto de evidência. Respectivamente, década de 60, 70 e 80 até os dias atuais. 
 A proposta de criação de discussão com base nos estudos trabalhados a serem aplicados em salas de aula de ensino fundamental e médio, devem, a priori, considerar o conhecimento que cada aluno detém, conforme mencionado no Conteúdo 1, deste blog.
 A partir disso, é possível ampliar os assuntos, sobretudo no que tange a construção do estudo da língua, mais especificamente, do texto.
 Uma das técnicas apresentadas por Regina Célia Haydt a serem aplicadas em salas de aula de ensinos fundamental e médio, que, segundo a autora, após elementares apectos, comprovou-se a eficácia, é a utilização de ferramentas que corroboram o processo de ensino-aprendizagem.
 A construção de blog, por exemplo, que é um instrumento em que o aluno encontrará espaço para divulgar as informações levantadas acerca de determinado assunto. Neste caso, sobre o processo e fases da Linguística Textual, de forma com que o aluno esteja apto a construir um texto, de forma geral, além de ter consciência do enfoque das teorias de texto.

BENTES, A. C. Lingüística Textual. IN. MUSSALIM, F. & BENTES, A. Introdução à Lingüística – Domínios e Fronteiras. 3ed. São Paulo, Cortez. Vol.1., 2003, p.245-287.

HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. São Paulo: Editora Abril, 2ª ed. 1995.

KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos.  São Paulo, Contexto, 1997a.

Postado por: Kléber Dias
Revisado por: Felip Alves

quinta-feira, 23 de março de 2017

Teorias do Texto

   
      A disciplina Teorias do Texto tem como foco o estudo teórico do texto e contexto partindo da perspectiva sócio-interacionista e da linguistica textual com a intenção de salientar as teorias de processamento cognitivo do texto.
      A perspectiva sócio-interacionista visa à interação do leitor com o texto considerando o contexto social em que ele está inserido e as influências derivadas de suas interações sociais, e a linguística textual, de acordo com Fávero & Koch (1998), considera os textos como formas específicas de manifestação da linguagem
      Para esta disciplina, o estudo do universo textual é prioridade, pois envolve o nascimento de uma linguística do texto presente no contexto das análises transféricas, abrange a caracterização e diferenciação das modalidades oral e escrita, as inter-relações da linguística textual com distintas linhas teóricas de estudo do texto, a sociolinguística, a pragmática, a análise da conversação e do discurso, e as principais teorias de leitura de texto.
      As teorias do texto possuem caráter multidisciplinar e transdisciplinar, trazem como prioridade o texto, que age como um canal de interação e construção social de conhecimento e linguagem, abarcando ações linguísticas, cognitivas e sociais em sua organização, produção e funcionamento.
      O texto funciona como um instrumento de aprendizagem, pois leva o leitor a refletir sobre o modo como a língua funciona, suas diversas situações de interação verbal ou social, os usos dos recursos oferecidos pela língua, a adequação dos textos de acordo com as situações, e suscita a reflexão em relação à intenção da leitura no processamento cognitivo do texto, visando à formação de um leitor com senso analítico e capaz de construir e/ou reconstruir textos.  
       No ambiente escolar, é preciso que o professor considere o conhecimento que o aluno detém e o incentive a ser um leitor crítico e sedento pelo saber. É necessário considerar que todo texto carrega influências de quem o produziu e irá interagir com o leitor, que fará a sua interpretação textual de acordo com suas influências e conhecimentos que são baseados em seu contexto social e em suas experiências. 



CONTEÚDO COMPLEMENTAR 1 – APRESENTAÇÃO. Disponivel em: http://online.unip.br/disciplina/detalhes/1356. Acesso em: 20/03/2017

Fávero. L. L. . Coesão e coerências textuais: introdução. 4ª. Ed. , São Paulo: Cortez, 1998.

__________, KOCH, I. V. Linguística textual: introdução. 4ª. Ed., São Paulo: Cortez, 1998 (Série gramática portuguesa na pesquisa e no ensino; 9),


* O link do Conteúdo Complementar 1 – apresentação, está disponível apenas para os alunos de letras no portal da universidade.

Postado por: Gabriella B. da Silva 
Revisado por: Felip Alves