Neste texto serão apresentadas algumas das principais categorias teóricas
de análise relacionadas à organização estrutural, às estratégias de processamento e funcionamento e ao contexto
interacional. Tais como processamento textual e organização estrutural.
Processamento textual
O texto deve ser entendido como um processo
que acontece através de sistemas de conhecimento acionados no próprio texto e
no contexto de produção (KOCH, op.cit). Na produção textual, toda ação é
acompanhada de processos de ordem cognitiva. Os interlocutores têm
conhecimentos na memória que precisam ser ativados para que a atividade seja
efetivada com sucesso, tais atividades geram expectativas e isso compõe um
projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.
Considerando o texto como um processo,
HEINEMANN e VIEHWEGER (1991 apud Koch op. cit) definem três grandes sistemas de conhecimento, responsáveis
pelo processamento textual:
1)
Conhecimento linguístico
É o conhecimento do léxico e da gramática,
responsável pela escolha dos termos e pela organização do material linguístico
na superfície textual.
2)
Conhecimento enciclopédico ou de mundo
São as informações armazenadas na memória de
cada sujeito. Abrange o conhecimento manifestado por enunciações fatuais (“A
Ponta do Seixas, na Paraíba, é o extremo leste do continente americano”) e o
conhecimento episódico e intuitivo, adquirido por via da experiência (“Não dá
pra fritar ovo sem quebrar a casca”).
3)
Conhecimento interacional
Compreende a realização de certas ações por
meio da linguagem. Divide-se em:
a) conhecimento ilocucional: (meios diretos e
indiretos para atingir um objetivo);
b) conhecimento comunicacional: (meios
adequados para atingir os objetivos desejados);
c) conhecimento metacomunicativo: (meios de
prevenir e evitar distúrbios na comunicação - atenuação, paráfrases, parênteses
de esclarecimento etc);
d) conhecimento superestrutural: (modelos
textuais globais que permitem aos usuários reconhecer um texto como pertencente
a determinado gênero ou certos esquemas cognitivos).
Os conceitos armazenados na memória são
organizados em blocos, formando uma rede de relações na qual um conceito sempre
aciona uma série de entidades. À eleição, por exemplo associa-se políticos,
eleitores, corrupção, CPI, leis, senado e dinheiro.
Por conta desta estruturação, o conhecimento enciclopédico transforma-se em
conhecimento procedimental e fornece instruções para agir em determinadas
situações.
Organização estrutural
Autores como Dijk (2000), Koch (1997a),
Fávero (1995) e Kleiman (2004) orientam uma organização textual a partir de
três níveis estruturais, inter-relacionáveis entre si
:
Superestrutural – de nível
global, com ênfase nas relações esquemático-cognitivas.
Macroestrutural – de nível
semântico, com ênfase nas relações coerência textual.
Microestrutural – de nível de
superfície linguística, com ênfase nas relações de coesão.
O nível
SUPERESTRUTURAL se refere tanto às estruturas textuais globais como também
envolve o conhecimento sobre estratégias esquemáticas cognitivas relacionadas à
significação global da base textual. São estratégias de produção e recepção de
texto que acionam o conhecimento armazenado na memória através de modelos globais
como frames, esquemas,
planos e scripts.
Frames – Conjunto convencional de
elementos sem organização sequencial que acionamos cognitivamente em uma
situação de uso. Por exemplo, ao mencionar o frame “festa de aniversário”
acionamos o conjunto “balões, brigadeiro, bolo, vela, salgados, presente, etc”.
Esquemas – Conjunto de elementos
armazenados sequencialmente na memória que acionamos cognitivamente em uma
situação de uso. Por exemplo, ao mencionar o esquema “um dia de trabalho”
acionamos o conjunto sequencial “acordar, levantar, tomar banho, vestir-se,
tomar café, sair de casa, etc”.
Planos – Modelos de comportamento
manifestados para alcançar algum propósito acionados em uma situação de uso.
Por exemplo, um adolescente que organiza um plano para conseguir dos pais
permissão para viajar sozinho.
Scripts – São planos com rotina bem
estabelecida que geralmente especificam papeis e ações dos interlocutores. Por
exemplo, carta de amor, infância, novela, etc.
O nível MACROESTRUTURAL
se refere às relações de coerência textual responsáveis por construir a
significação global no texto através dos processos de compreensão e produção
textual. Esta construção depende da organização de fatores de diversas ordens:
linguísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais e pragmáticos. Autores
como Costa Val (2006) e Platão e Fiorin (1996), apresentam a coerência como
responsável pela diferença entre um texto e um aglomerado de frases. É pela
coerência que as ideias são conectadas, harmonizadas, não contraditórias, propiciando
a compreensão semântica global. Platão e Fiorin (1996, p. 397-400), apresentam
diferentes níveis de coerência:
Coerência narrativa ocorre quando
se respeitam as implicações lógicas existentes entre as partes da narrativa;
A coerência
argumentativa diz respeito às relações de implicação ou de adequação que se
estabelecem entre certos pressupostos ou afirmações explícitas colocadas no
texto e as conclusões que se tira deles, as consequências que se fazem deles
decorrer;
Coerência figurativa diz respeito à
combinatória de figuras para manifestar um dado tema ou à compatibilidade de
figuras entre si;
Coerência temporal é aquela que
respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta uma compatibilidade
entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo;
Coerência espacial diz respeito à
compatibilidade entre os enunciados do ponto de vista da localização espacial;
Coerência no nível de linguagem usado e a compatibilidade, do ponto de vista da
variante linguística escolhida, no nível do léxico e das estruturas sintéticas
utilizados no texto.
Autores como Koch (1997a), Fávero (1995) e
Bentes (2003), defendem importantes critérios de textualidade, tais como:
Princípio de interpretabilidade –
depende da co-participação entre produtor e receptor na situação de comunicação
e da intenção comunicativa. Não há textos incoerentes em si, eles são coerentes
dentro de um contexto interacional.
Situação comunicativa – interfere na
produção/recepção do texto e pode ser entendida em sentido estrito (contexto
imediato) e em sentido amplo (contexto sócio-político-cultural).
Conhecimento de mundo e conhecimento partilhado – conhecimento de mundo é toda memória de vida (social, histórica
e individual) armazenada mentalmente e o conhecimento partilhado é a
intersecção de conhecimentos comuns compartilhados por produtor e receptor na
interação comunicativa.
Polifonia – (várias vozes) diz
respeito ao jogo de vozes e pontos de vista presentes no texto. Muitas vezes a
mudança de vozes nem sempre aparece nitidamente marcada no texto.
Inferência – relaciona-se às
estratégias cognitivas que, com base no conhecimento de mundo, organizam e
acionam os modelos globais de estruturas textuais.
Intertextualidade – recorre ao conhecimento
de outros textos. Todo texto traz em si, em níveis variáveis, um grau de
intertextualidade, seja ela explícita (quando há indicação da fonte) ou
implícita (quando não há indicação da fonte).
Intencionalidade – refere-se à
forma como os sujeitos usam textos a fim de perseguir e realizar suas
intenções, de modo que seus textos produzam-se adequados à obtenção dos efeitos
desejados.
Informatividade – é o grau de
previsibilidade informacional presente no texto que também está condicionado à
intencionalidade e é regulado pelo contexto situacional mais amplo. O grau de
informatividade vem imediatamente da relação “dado-novo” referente às
informações do texto.É importante salientar que esse critério também depende da
interação emissor/receptor.
O nível MICROESTRUTURAL
se refere às relações coesivas lineares que dizem respeito ao modo como os
elementos presentes na superfície textual (no eixo horizontal) estão
interconectados através de recursos linguísticos, constituindo sequências
veiculadoras de sentido. A coesão diz respeito à estrutura formal do texto e é
construída através de mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos, catafóricos,
artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções,
etc.), que definem as relações entre frases e sequência de frases e no interior
das mesmas, e lexicais, através da reiteração, da substituição e da associação
(cf. COSTA VAL, 2006, p.6). As várias possibilidades de coesão textual podem
ser agrupadas em três grandes tipos (cf. FÁVERO, 1995):
1)
Coesão referêncial
Diz respeito aos elementos que têm a função
de estabelecer referência. Não são interpretados pelo seu sentido próprio, mas
referem-se a alguma outra coisa, relacionando o signo a um objeto. A coesão
referencial é obtida por meio da substituição e reiteração de termos.
2)
Coesão recorrencial
Esta se dá quando, apesar de retomadas
estruturais, a informação progride, o discurso segue a diante. A coesão
recorrencial é obtida por meio da recorrência de termo, paralelismo, paráfrase
e recursos fonológicos.
3)
Coesão sequencial
Esta tem por função (assim como a
recorrencial) fazer o texto progredir, encaminhar o fluxo informacional, porém
não pela retomada de itens ou estruturas, mas pela sequenciação das sentenças
através de mecanismos temporais e conectivos.
COSTA VAL, M.
G. Redação e textualidade. 3ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DIJK, T.
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PLATÃO, S. F.
& FIORIN, J. L. Lições de Texto: leitura e redação. São
Paulo, Ática, 1996.
Postado por: Gustavo Saramabdno
Revisado por: Felip Alves