Segundo Koch (2013) fala e escrita constituem duas modalidades de uso da língua. Embora se utilizem do mesmo sistema lingüístico, ambas possuem características próprias. Porém não devem ser vistas de forma distinta.
Marcuschi (1995:13) escreve:
“As diferenças entre fala e
escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais e não na
relação dicotômica de dois pólos opostos.”
A partir disso pode-se
entender inicialmente que fala e escrita apresentam tipos de complexidade
diferentes.
Muitos textos escritos se aproximam da oralidade, outros são predominantemente mais formais ou coloquiais, havendo também os que estão entre essas duas vertentes
Foi com base nessa visão dicotômica que se estabelecera as diferenças entre fala e escrita, entre quais as mais frequentemente mencionadas são:
Ø Fala
= contextual, implícita, redundante, não planejada, predominância do “modus
pragmático”, fragmentada, incompleta, pouco elaborada, pouca densidade
informacional, predomina frases curtas, poucas nominalizações, menor densidade
lexical.
Ø Escrita
= descontextualizada, explícita, condensada, planejada, predominância do “modus
sintático”, não fragmentada, completa, elaborada, densidade informacional,
predomina frases complexas, abundância de nominalizações, maior densidade
lexical.
O
ocorrido, no entanto é que nem todas essas características são exclusivas de
uma ou outra das duas modalidades. Essas características foram estabelecidas
tendo por parâmetro o ideal da escrita, o que gerou uma visão preconceituosa da
fala.
Porém
o texto falado tem suas próprias características, tem uma estrutura própria que
se pauta a partir do momento em que é produzido. É nesse sentido que deve ser
descrito e avaliado.
A oralidade não é planejável de antemão, assim como ocorre na escrita. Planejamento e verbalização ocorrem simultaneamente, sendo a fala o seu próprio rascunho. Enquanto a escrita é estática, a fala assume uma dinâmica, como se estivessem atuando teoria e prática.
Koch ressalta algumas dessas
interferências da oralidade na aquisição da escrita em um texto publicado em
1997 pela revista “Trabalhos em Linguística Aplicada”.
A autora ressalta as
questões de referência, repetições, organizadores textuais, justaposição de
enunciados, discurso citado, segmentação gráfica, grafia correspondente as palavras
e correções feitas da forma que se fazem no texto oral, e suas diferenças no
texto falado e no texto escrito.
Há
uma diferença entre letramento, alfabetização e escolarização. Sendo o
letramento o processo de aprendizado sócio-histórico da leitura e da escrita em
contextos informais, a alfabetização o domínio das habilidades de ler e
escrever, e a escolarização a prática formal e institucional de ensino.
Koch menciona em seu artigo a supervalorização do texto escrito, já que a escrita está presente praticamente em todas as práticas sociais das comunidades em que se insere sob a forma de letramento. Mas é necessário a percepção da língua como fenômeno dinâmico, e que oralidade e escrita são ambas práticas sociais e não propriedade de sociedades distintas.
KOCH, I. V. O Texto e a Construção dos Sentidos. São
Paulo, Contexto, 2013, p.77-81.
MARCUSCHI, L. A. Oralidade e
Escrita. Recife/UFPE, Mimeografado, 1995.
_____. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 7ed. São
Paulo: Cortez, 2007.
Postado por: Karen S.
Revisado por: Felip Alves
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