quinta-feira, 13 de abril de 2017

Outras teorias cujo obeto de estudo é o texto

        
        Além da Linguística Textual, há outros campos que exercem o estudo do texto. 

        Os campos de estudo abordados são: sociolinguística, pragmática, análise do discurso, semiótica discursiva e estudos enunciativos.

        Sociolinguística: estuda a relação entre linguagem e sociedade por meio dos textos, prioriza o estudo da língua falada, visa relacionar as variações linguísticas com a comunidade em que se manifestam, considera a estrutura social do falante e a sociedade em que está inserido e tem como objeto principal de estudo a diversidade linguística.
A sociolinguística considera a identidade social do emissor ou falante e do receptor ou ouvinte, o contexto social em que a comunicação está sendo realizada e o julgamento linguístico-social distinto feito pelos falantes sobre si e os outros.

        Pragmática: estuda o uso concreto da linguagem tomando como foco os seus usuários, as condições que regem a prática da linguagem e possui como prioridade o estudo da linguagem. A Pragmática tem como foco a não centralidade da língua e considera a sua produção social.
 
        São vistas como principais correntes pragmáticas: O Pragmatísmo Americano, Os Estudos dos Atos de Fala e Os Estudos da Comunicação.

        Pragmatismo Americano: foi desenvolvido por W. James e Morris, recebeu influencia dos estudos semiológicos de Charles Pierce, enfatiza a inclusão do sujeito na construção do sentido e desconstrói a noção clássica de verdade.

        Estudos dos Atos da Fala: possuem a influência da Filosofia da Linguagem de Wittgenstein e foram alavancados por Jonh L. Austin, enfatizam a performance da linguagem visando à ação e interação, enfatizam os enunciados constativos, que realizam apenas uma constatação sobre algo, e performativos, que realizam ações porque são ditos. Existem também os atos locucionais, que desejam dizer algo e passar uma informação, ilocucionais, que mostram a posição do locutor perante aquilo que ele diz, e perlocucionais, que produzem efeitos específicos e consequências sobre o interlocutor, locutor ou sobre outras pessoas. Os Estudos dos Atos da Fala também enfatizam as regras conversacionais que gerenciam o princípio da cooperação na linguagem.

        Estudos da Comunicação: unem os interesses teóricos citados anteriormente e agregam o interesse por questões de caráter histórico e social, priorizando as relações sociais, culturais, de gênero, de raça e de classe. 

        Análise do Discurso: de origem francesa, concebe o texto em sua opacidade, enfatiza o funcionamento linguístico - textual dos discursos no contexto historico-social.

        De acordo com Maingueneau, 1987, a Análise do Discurso pode ser praticada de três formas:

Tradição filológica: história e reflexão sobre os textos.
 Prática da explicação de textos: teoria voltada para a leitura.
 Base no estruturalismo: considera o texto em sua imanência, diferenciado dos modos de estudo da filologia.

        A Análise do Discurso traz como características a presença do materialismo histórico, da linguística, dos processos sintáxicos e de enunciação, e da teoria do discurso como teoria dos processos semânticos
       A Análise do Discurso busca apresentar a inconsistência dos textos, visa apreender a linguagem enquanto discurso materializando o contato entre o linguístico e o não- linguístico, tendo como foco a construção do olhar vindo do leitor.
        Há textos produzidos em determinadas Formações Discursivas que se relacionam com a Análise do Discurso e neles são consideradas as instituições que restringem fortemente a enunciação, os conflitos históricos, sociais, etc; e a delimitação de um espaço próprio no exterior de um interdiscurso limitado.
        A Análise do Discurso de origem francesa, pertence à área da linguística e comunicação, é uma prática que analisa as formações ideológicas por meio dos textos, considerando seus contextos em busca das ideologias que estão inseridas nos textos.

        Semiótica Discursiva: estuda o texto como um todo, busca explicar os sentidos do texto partindo de mecanismos e procedimentos de construção do sentido, que dizem respeito à organização linguístico-discursiva e relações com a sociedade e com a história. 
        O texto pode ser linguístico, visual, olfativo, gestual, ou até mesmo um texto que mescla diferentes modos de expressões
        A Semiótica Discursiva preza pela análise do Plano de Conteúdo do texto, com a finalidade de construir a sua significação por meio do Percurso Gerativo dos Sentidos, que contém três níveis de análise:

        A Semiótica Discursiva preza pela análise do Plano de Conteúdo do texto, com a finalidade de construir a sua significação por meio do Percurso Gerativo dos Sentidos, que contém três níveis de análise:

        Nivel Narrativo: nível em que há a introdução do sujeito e mudanças narrativas realizadas por ele. As categorias semânticas fundamentais são transformadas nos valores dos sujeitos e são inseridas nos objetos com que o sujeito se relaciona. Ocorre a mudança de ações e modos de existência atribuídos ao sujeito e suas relações com os valores.

        Nível Discursivo: é o nível em que a narrativa é colocada no tempo e espaço unida aos seus sujeitos, objetos, destinadores e destinatários. Os investimentos semânticos possibilitam que pessoas e objetos presentes no texto sejam disseminados e transformados para produzir efeitos de sentido, originando uma ilusão de verdade. 
 
        Estudos Enunciativos: trata-se do estudo da linguagem que é concretizado por meio das enunciações.
Os Estudos Enunciativos possuem como seus principais representantes: Bakhtin, E. Benveniste, Ducrot e Guimarães.
       
     Bakhtin: incita a reflexão sobre a polifonia e a enunciação, defende o dialogismo constitutivo da linguagem e a natureza social da enunciação, considera a enunciação um produto da interação dos indivíduos socialmente organizados e entende o termo “diálogo” de modo amplo, assim como toda comunicação verbal. 

        E. Benveniste: afirma que a enunciação coloca a língua em funcionamento por meio do ato individual de utilização do locutor. Para o locutor, há a obrigatoriedade de referir à língua através do discurso para que o interlocutor entenda a informação transmitida.
A enunciação promove uma ligação entre os indivíduos e informação que está sendo dita pelo locutor no momento em que está sendo proferida.
De acordo com este estudioso, é possível existir um enunciado sem diálogo e sem um locutor.

        Ducrot: descreve o conceito de enunciação em três sentidos: Enunciação – Atividade, Enunciação - Produto e Enunciação – Acontecimento.
Para Ducrot, em uma enunciação há a presença de diferentes informações e opiniões, e cabe ao locutor a função de causar suas manifestações e identificá-las dentro do enunciado, e então passarão a ser chamadas de enunciadores.
Ducrot aponta as seguintes funções enunciativas: O Sujeito Empírico (SE), O Locutor (L), O Locutor (LP) e Os Enunciadores.

O Sujeito Empírico (SE): autor efetivo, responsável pela reprodução de discursos já existentes,
O Locutor (L): detém a responsabilidade pelo ato da prática enunciativa.
O Locutor (LP): funciona como suporte para certas predicações.
Os Enunciadores: representam os diversos pontos de vista que podem ser identificados em um mesmo enunciado.

        Guimarães: mantém os conceitos abordados por Ducrot, expõe que falante e ouvinte são os agentes físico-fisiológicos do falar e ouvir. Posiciona o Locutor como representante individual e responsável pela enunciação, o Alocutário como correspondente do locutor, caracteriza o Locutor (L) como a fonte do dizer e coloca o Locutor (LP) como representante sócio-histórico do enunciado.
Guimarães defende que é a posição do sujeito enunciador que define a perspectiva da enunciação e que o destinatário é correlato e é constituído de acordo com a perspectiva do enunciador.

         Presença das outras teorias de estudo é o texto na sala de aula 


        As teorias que abordam os estudos do texto podem ser aplicadas durante as aulas destinadas ao ensino fundamental II e médio de forma dinâmica e de acordo com a capacidade de aprendizagem do aluno. Tais teorias podem ser colocadas em prática em aulas de leitura de artigos presentes em jornais e revistas, por exemplo, tendo em vista que tais materiais possuem informações atuais e que geralmente compõem um contexto social comum ao aluno.
        É importante que o professor apresente a parte teórica dos estudos voltados ao texto de forma simples, e em seguida, instigue e direcione a prática, usando como ferramenta de aprendizagem o ato da leitura crítica e promovendo a identificação da presença de características pertencentes aos campos responsáveis pelos estudos do texto.  

 BENVENISTE, E. O Aparelho Formal da Enunciação. IN Problemas de Lingüística Geral II. Campinas: Pontes, 1989.

DUCROT, O. O Dizer e o Dito. Campinas, Pontes, 1987.


INDURSKY, F. O texto nos estudos da linguagem: especificidades e limites. ORLANDI, E.P. & LAGAZZI, R. S.(orgs). Introdução às ciências da Linguagem - Discurso e Textualidade. Campinas, Pontes, 2006.

Postado por: Gabriella B. da Silva 
Revisado por: Felip Alves
         

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