terça-feira, 25 de abril de 2017

Considerações sobre a análise da conversação


        Esse aspecto busca estabelecer relações com a exterioridade da linguagem.
A análise da conversação teve origem na década de 1960 no campo dos estudos ligados à Etnometodologia.
     Para esta ciência, os analistas têm de ser perceptivos aos fenômenos interacionais, centrando-se nos detalhes estruturais do processo interativo.

Segundo Hilgert há três níveis essenciais desse enfoque:

a)    Macronível: nas fases conversacionais- abertura, fechamento e parte central, e o tema central e subtemas da conversação.
b)    Nível médio: turno conversacional, tomada de turnos, sequência conversacional, atos de fala e marcadores conversacionais.
c)    Micronível: elementos internos do ato de fala, que constituem sua estrutura sintática, lexical, fonológica e prosódica.
          A análise da conversação estabelece o texto como seu objeto de estudos, mas se dedica única e exclusivamente a textos orais naturais, criados espontaneamente e não aqueles criados artificialmente. A ciência busca enfatizar que partilhamos cognitivamente da interação, pois o planejamento da fala ocorre no momento em que interagimos. 
        Sendo assim, possui alguns aspectos importantes, são eles:
I.              Sobre o tratamento dos dados orais: Deve-se considerar o sistema de transcrição de texto oral a partir de gravações ou filmagens que possam ser analisadas, também é preciso considerar a importância de recursos não verbais utilizados na fala. Como por exemplo: a paralinguagem, cinésica, proxêmica, tacêsica e até mesmo o silêncio.
II.            A organização da conversa: Em uma conversa há as marcações de fala do interlocutor, devem falar um por vez. Há sinais que simbolizam o fim de seu turno e o convite à fala do outro para que haja a troca de papéis de falante e ouvinte. Esses turnos podem ser nucleares e inseridos.
III.           Dos marcadores conversacionais: O texto oral é planejado e verbalizado ao mesmo tempo e possui alguns recursos característicos da fala natural, essas características são os marcadores conversacionais que variam entre verbais, não-verbais ou prosódicos. Os marcadores conversacionais são produzidos pelos falantes para dar tempo à organização do pensamento.

IV.          A construção da compreensão no texto falado: Quando dois ou mais indivíduos conversam coordenam ações e conteúdos, construindo textos coerentes. 
          Segundo Marcuschi, a compreensão na interação verbal face a face, resulta de um projeto conjunto de interlocutores em atividades cooperativas e coordenadas de co-produção de sentido,existindo algumas atividades de compreensão na interação verbal.

·Estratégia 1- negociação: central para a produção de sentidos na interação verbal dada a sua natureza conjunta;

·Estratégia 2- construção de um foco comum: na interação a base da troca é a sintonia referencial, o interesse comum e referentes partilhados;

·Estratégia 3- demonstração de (des)interesse e (não-)partilhamento: se não há esse partilhamento a interação não progride;

·Estratégia 4- existência e diversidade de expectativas: os interlocutores criam expectativas diversas em relação um ao outro relacionadas ao contexto, às condições em que são produzidas, conhecimento partilhado etc;

·Estratégia 5- marcas de atenção: sinais enviados pelos interlocutores que demonstram se há boa ou má sincronia na interação.

        A análise da conversação no Brasil constitui-se em uma linha de pesquisa praticada sistematicamente com uma produção editorial que abrange transcrições de materiais do corpus do Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta, análises de textos orais sobre diversos temas da análise da conversação, gramáticas do português falado, além de teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação das universidades brasileiras.


DIONÍSIO, Ângela P. Análise da conversação. In: MUSSALIM, F. & BENTES, A. C. (orgs). Introdução à Linguística – Domínios e Fronteiras. 6ed. São Paulo: Cortez, Vol.2, 2005, p.69-99.

MARCUSCHI, L. A. Análise da conversação. 6. ed. São Paulo: Ática, 2007b.


Postado por: Karen S.
Revisado por: Felip Alves

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