Além da
Linguística Textual, há outros campos que exercem o estudo do texto.
Os campos de
estudo abordados são: sociolinguística, pragmática, análise do
discurso, semiótica discursiva e estudos enunciativos.
Sociolinguística: estuda a relação entre
linguagem e sociedade por meio dos textos, prioriza o estudo da língua falada,
visa relacionar as variações linguísticas com a comunidade em que se
manifestam, considera a estrutura social do falante e a sociedade em que está
inserido e tem como objeto principal de estudo a diversidade linguística.
A
sociolinguística considera a identidade social do emissor ou falante e do
receptor ou ouvinte, o contexto social em que a comunicação está sendo
realizada e o julgamento linguístico-social distinto feito pelos falantes sobre
si e os outros.
Pragmática: estuda o uso concreto da linguagem tomando
como foco os seus usuários, as condições que regem a prática da linguagem e possui
como prioridade o estudo da linguagem. A Pragmática tem como foco a não
centralidade da língua e considera a sua produção social.
São vistas
como principais correntes pragmáticas: O Pragmatísmo Americano, Os Estudos dos
Atos de Fala e Os Estudos da Comunicação.
Pragmatismo Americano: foi desenvolvido por W.
James e Morris, recebeu influencia dos estudos semiológicos de Charles Pierce,
enfatiza a inclusão do sujeito na construção do sentido e desconstrói a noção
clássica de verdade.
Estudos dos Atos da Fala: possuem a
influência da Filosofia da Linguagem de Wittgenstein e foram alavancados por
Jonh L. Austin, enfatizam a performance da linguagem visando à ação e
interação, enfatizam os enunciados constativos, que realizam apenas uma
constatação sobre algo, e performativos, que realizam ações porque são ditos.
Existem também os atos locucionais, que desejam dizer algo e passar uma
informação, ilocucionais, que mostram a posição do locutor perante aquilo que
ele diz, e perlocucionais, que produzem efeitos específicos e consequências
sobre o interlocutor, locutor ou sobre outras pessoas. Os Estudos dos Atos da
Fala também enfatizam as regras conversacionais que gerenciam o princípio da
cooperação na linguagem.
Estudos da Comunicação: unem os
interesses teóricos citados anteriormente e agregam o interesse por questões de
caráter histórico e social, priorizando as relações sociais, culturais, de
gênero, de raça e de classe.
Análise do Discurso: de origem
francesa, concebe o texto em sua opacidade, enfatiza o funcionamento linguístico
- textual dos discursos no contexto historico-social.
De acordo com
Maingueneau, 1987, a Análise do Discurso pode ser praticada de três formas:
Tradição filológica: história e reflexão sobre os textos.
Prática da explicação de textos: teoria voltada para a leitura.
Base no estruturalismo: considera o texto em sua imanência,
diferenciado dos modos de estudo da filologia.
A Análise do Discurso traz como características a presença do materialismo
histórico, da linguística, dos processos sintáxicos e de enunciação, e da
teoria do discurso como teoria dos processos semânticos
A Análise do Discurso busca apresentar
a inconsistência dos textos, visa apreender a linguagem enquanto discurso
materializando o contato entre o linguístico e o não- linguístico, tendo como
foco a construção do olhar vindo do leitor.
Há textos produzidos em determinadas
Formações Discursivas que se relacionam com a Análise do Discurso e neles são consideradas
as instituições que restringem fortemente a enunciação, os conflitos
históricos, sociais, etc; e a delimitação de um espaço próprio no exterior de
um interdiscurso limitado.
A Análise do Discurso de origem
francesa, pertence à área da linguística e comunicação, é uma prática que
analisa as formações ideológicas por meio dos textos, considerando seus
contextos em busca das ideologias que estão inseridas nos textos.
Semiótica Discursiva: estuda o texto como
um todo, busca explicar os sentidos do texto partindo de mecanismos e
procedimentos de construção do sentido, que dizem respeito à organização linguístico-discursiva
e relações com a sociedade e com a história.
O texto pode ser linguístico, visual, olfativo, gestual, ou até
mesmo um texto que mescla diferentes modos de expressões
A Semiótica
Discursiva preza pela análise do Plano de Conteúdo do texto, com a finalidade
de construir a sua significação por meio do Percurso Gerativo dos Sentidos, que
contém três níveis de análise:
A Semiótica
Discursiva preza pela análise do Plano de Conteúdo do texto, com a finalidade
de construir a sua significação por meio do Percurso Gerativo dos Sentidos, que
contém três níveis de análise:
Nivel Narrativo: nível em que há a introdução do sujeito e
mudanças narrativas realizadas por ele. As categorias semânticas fundamentais são
transformadas nos valores dos sujeitos e são inseridas nos objetos com que o
sujeito se relaciona. Ocorre a mudança de ações e modos de existência
atribuídos ao sujeito e suas relações com os valores.
Nível Discursivo: é o nível em que a
narrativa é colocada no tempo e espaço unida aos seus sujeitos, objetos,
destinadores e destinatários. Os investimentos semânticos possibilitam que
pessoas e objetos presentes no texto sejam disseminados e
transformados para produzir efeitos de sentido, originando uma ilusão de
verdade.
Estudos Enunciativos: trata-se do estudo
da linguagem que é concretizado por meio das enunciações.
Os Estudos Enunciativos possuem como
seus principais representantes: Bakhtin, E. Benveniste, Ducrot e Guimarães.
Bakhtin: incita a reflexão sobre a polifonia e a enunciação, defende o
dialogismo constitutivo da linguagem e a natureza social da enunciação,
considera a enunciação um produto da interação dos indivíduos socialmente
organizados e entende o termo “diálogo” de modo amplo, assim como toda
comunicação verbal.
E. Benveniste: afirma que a enunciação coloca a língua em funcionamento por meio do
ato individual de utilização do locutor. Para o locutor, há a obrigatoriedade
de referir à língua através do discurso para que o interlocutor entenda a
informação transmitida.
A enunciação promove uma ligação entre
os indivíduos e informação que está sendo dita pelo locutor no momento em que
está sendo proferida.
De acordo com este estudioso, é
possível existir um enunciado sem diálogo e sem um locutor.
Ducrot: descreve o conceito de enunciação em três sentidos: Enunciação –
Atividade, Enunciação - Produto e Enunciação – Acontecimento.
Para Ducrot, em uma enunciação há a
presença de diferentes informações e opiniões, e cabe ao locutor a função de
causar suas manifestações e identificá-las dentro do enunciado, e então
passarão a ser chamadas de enunciadores.
Ducrot aponta as seguintes funções enunciativas:
O Sujeito Empírico (SE), O Locutor (L), O Locutor (LP) e Os Enunciadores.
O Sujeito Empírico (SE): autor efetivo, responsável pela
reprodução de discursos já existentes,
O Locutor (L): detém a
responsabilidade pelo ato da prática enunciativa.
O Locutor (LP): funciona como
suporte para certas predicações.
Os Enunciadores: representam os
diversos pontos de vista que podem ser identificados em um mesmo enunciado.
Guimarães: mantém os conceitos
abordados por Ducrot, expõe que falante e ouvinte são os agentes
físico-fisiológicos do falar e ouvir. Posiciona o Locutor como representante
individual e responsável pela enunciação, o Alocutário como correspondente do
locutor, caracteriza o Locutor (L) como a fonte do dizer e coloca o Locutor
(LP) como representante sócio-histórico do enunciado.
Guimarães defende que é a posição do sujeito enunciador que define a
perspectiva da enunciação e que o destinatário é correlato e é constituído de
acordo com a perspectiva do enunciador.
Presença das outras teorias de
estudo é o texto na sala de aula
As teorias
que abordam os estudos do texto podem ser aplicadas durante as aulas destinadas
ao ensino fundamental II e médio de forma dinâmica e de acordo com a capacidade
de aprendizagem do aluno. Tais teorias podem ser colocadas em prática em aulas
de leitura de artigos presentes em jornais e revistas, por exemplo, tendo em
vista que tais materiais possuem informações atuais e que geralmente compõem um
contexto social comum ao aluno.
É importante
que o professor apresente a parte teórica dos estudos voltados ao texto de
forma simples, e em seguida, instigue e direcione a prática, usando como
ferramenta de aprendizagem o ato da leitura crítica e promovendo a
identificação da presença de características pertencentes aos campos
responsáveis pelos estudos do texto.
BENVENISTE, E. O Aparelho Formal da
Enunciação. IN Problemas de Lingüística Geral II. Campinas: Pontes, 1989.
DUCROT, O. O Dizer e o Dito. Campinas,
Pontes, 1987.
INDURSKY, F. O texto nos estudos da
linguagem: especificidades e limites. ORLANDI, E.P. & LAGAZZI, R.
S.(orgs). Introdução às ciências da Linguagem - Discurso e Textualidade.
Campinas, Pontes, 2006.
Postado por: Gabriella B. da Silva
Revisado por: Felip Alves